Loepper, como ele mesmo explica, é uma dessas pessoas que realmente curtem colocar a mão na graxa: “Desde criança gosto, pois cresci vendo meu pai e avô mexendo com carros na oficina deles. Não demorou muito para que eu cultivasse a paixão pelos Hot Rods”, lembra.
Por tal motivo, quando encontrou a picape à venda, com carroceria original e feita em chapas de aço, não se abalou ao descobrir que ela estava equipada com motor de quatro cilindros. Ao contrário: ciente do potencial do veículo, tratou de comprá-lo do amigo Sergio Liebel e, na medida do possível, foi refazendo sua mecânica até deixá-la em seu estado atual.
Vale dizer que o conjunto anteriormente empregado pelo menos para a utilização diária, não era dos piores, pois contava com um motor VW AP 1.8, que desenvolvia 99 cv, potência razoável para qualquer carro com menos de 800 kg.
MUDANDO TUDO
Mas não era suficiente para os anseios de Loepper. Logo, a primeira providência foi comprar um motor V8 302, seguindo a tradicional “receita” de utilizar uma mecânica da mesma marca da carroceria. Adaptar o novo propulsor não foi um problema, já que o chassi havia sido devidamente reforçado, mas as ancoragens dos coxins tiveram de ser refeitas.Em seguida, já com o propulsor junto ao chassi, algumas alterações foram realizadas por Gerson Luiz Choinski, da Reticenter, em Curitiba (PR). O profissional, por motivos óbvios, não revela muitos detalhes da preparação, mas informa que bloco foi retificado e rebaixado, permitindo com que o motor trabalhasse com uma taxa de compressão de 10:1. Tal mudança exige que o dono apenas utilize gasolina de maior octanagem para evitar batidas de pino.
Além disso, os pistões originais foram substituídos outros na medida 0.30, que, aliados a um novo virabrequim da marca Eagle, fizeram a cilindrada aumentar para cerca de 330 polegadas. O comando original deu lugar a um Crane com 294 graus (admissão) e 290 graus (escape), enquanto a bomba de óleo Carter cedeu espaço a uma Millodon de maior vazão.
As tampas de válvulas, o filtro de ar e o novo coletor de admissão são da Edelbrock. Este último, por sinal, foi necessário porque o carburador Motorcraft bijet foi substituído por um Holley quadrijet de 750 CFM. Os cabos de vela foram trocados por um jogo de silicone amarelo, enquanto o radiador foi desenvolvido especialmente para a picape. Por fim, o conjunto de hélice e ventoinha elétrica são da marca Flex-a-lite. Com essa configuração, Loepper calcula que o motor desenvolva uma potência máxima em torno dos 400 cv.
CONJUNTO COERENTE
Unindo luxo e desempenho, o câmbio escolhido foi o Ford C4 automático. Com três velocidades, também sofreu algumas alterações importantes. Visando a obter acelerações mais vigorosas, Choinksi instalou um kit de conversor de torque TCI, que mudou radicalmente as características da caixa. Antes, as marchas entravam por volta dos 1.500 rpm, mas agora são engatadas a 2.500 rpm, razão pela qual a picape canta pneus com facilidade.Todo esse esforço exigiu engrenagens de diferencial bem robustas. Por esse motivo, foi instalado em um eixo traseiro rígido de Ford Ranger V6. Vale dizer que esse eixo é uma excelente solução para quem não acha mais o diferencial do Maverick V8 à venda, conjunto que atualmente custa uma verdadeira fortuna.
O único senão durante o período de montagem foi o fato de o alojamento das engrenagens, no eixo da Ranger, ser ligeiramente deslocado para um dos lados da carcaça. Esse inconveniente foi resolvido com a devida adaptação em conjunto com as respectivas cruzetas de um tubo de árvore de transmissão adequado. “O arranjo ficou excepcional”, comemora Choinski.
A suspensão dianteira, independente, é uma cópia curitibana da famosa Mustang II, com amortecedores coil over e bandejas tubulares superiores e inferiores. Na traseira, o sistema empregado é o four link, com um par de abraços duplos de cada lado e amortecedores coil over. Vale dizer que o conjunto de molas e amortecedores, neste último caso, utiliza as mesmas peças do Opala seis cilindros equipado com ar condicionado.
Os freios dianteiros, a disco ventilado, também são do Opala, enquanto na traseira permanecem os tambores da Ranger. A mistura parece inusitada, mas é coerente, pois ambos os carros têm o mesmo tipo de furação, evitando gastos extras com torneiros mecânicos. O tanque de combustível, com capacidade para 40 litros, é o mesmo da Kombi, e a caixa de direção é nacional, da marca TRW.
CAPRICHO COM SIMPLICIDADE
O
que mais impressiona na picape, entretanto, é o seu visual. A
utilização do colete de radiador do Ford 1932 foi muito feliz, bem como a
permanência dos pára-lamas dianteiro e traseiro, que tiveram de ser
alargados para receber os novos “sapatos”. Na frente, os pára-choques
foram eliminados, dando um visual mais limpo ao Hot Rod.
A vigia traseira é móvel e muito agradável em dias quentes. A caçamba, como o resto da carroceria, é feita em chapas de aço, mas têm assoalho de madeira envernizada. Na lateral destacam-se as rodas Weld Racing de 15”, semelhantes às utilizadas pelos rodders norte-americanos na década de 1950. Elas foram montadas com pneus Pirelli P3000 175x65 R15 e Toyo Proxes S/T 275x60 R15, respectivamente.
O Hot Rod foi pintado na cor “Amarelo Cromo”, original da linha Ford, e recebeu flames no estilo Ghost, com desenhos discretos, executados pelo artista Guga, de Curitiba (PR), e a carroceria teve o teto rebaixado em 3”. Por outro lado, ela foi ligeiramente aumentada para conferir mais conforto aos seus ocupantes. Porém o serviço ficou tão bem-feito que quase sempre passa despercebido.
O bom gosto e o cuidado com o acabamento se repetem no interior da picape. O banco, como convém a um Hot tradicional, é inteiriço e foi feito sob encomenda. No painel, foram instalados velocímetro, conta giros, termômetro de água e manômetro de óleo da marca Autometer, enquanto o volante Banjo e a coluna de direção na qual está montada a alavanca de câmbio e seu seletor, foram fabricados pela Billet.
Como se não bastasse tudo isso, a picape ainda conta com um kit americano Flame Thrower, que lança labaredas de fogo no fim das tubulações do sistema de escapamento.
Foram gastos cerca de 18 meses para transformar a picape de uso diário, equipada com motor VW AP, em um Hot Rod V8 de tirar o fôlego, mas valeu a pena. Pelo menos é isso que pensa Gilmar Loepper – nós concordamos com ele.
“Este Hot Rod é o xodó da minha família, pois, de todos os veículos que temos, é aquele de que mais gostamos. Além disso, foi com ele que consegui unir minhas duas paixões, picapes e Hot Rods, em um único veículo”, finaliza o orgulhoso proprietário.
Disponível no(a):http://www.streetcustoms.com.br/
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